Crónicas

Nasce a actual sede de concelho na época da 2ª. Cruzada, quando, em São João de Jerusalém, na Terra Santa, é fundado um hospital que irá receber os peregrinos doentes, estropiados e vítimas, por vezes, de ataques e assaltos em tão longa caminhada que os levará junto do Santo Sepulcro (…)

Autor desconhecido.

 

A existência de um monumento megalítico no “Pinheiro dos Abraços”, a 3 km da cidade, assegura-nos, porém, que a região de Oliveira do Hospital era já habitada na pré-história, entre 5.000 e 2.000 A.C. (…)

Autor desconhecido.

 

No primeiro quartel do século XII existia em terras de Seia, uma insignificante pobla (póvoa) tendo a Este a aldeia denominada Sampaio de Garamácios, e a Oeste a conhecida pelo nome de Bonadela ambas paroquias autonomas. Essa pobla era situada no pendor Sudoeste duma colina, em cujo sopé meridional se estendia um comprido vale de terreno alagadiço e pantanoso, qu vinha contornando, desde Nordeste de Sampaio até Sudoeste da dita pobla. Pelo decorrer do tempo veio a desaparecer esse grande pantano ou ulveira ( do latim ulvária derivada de ulva alga vegetação palustre, + suf.-aria) pela abertura duma vala longitudinal, que se colheu e esgotou as aguas, que até ali enxarcavam os terrenos, e pelo rasgamento duma abertura ao fundo, por onde as aguas ficaram tendo franca saida precipitando-se pelo salto da Quebrança no vale da Bovadela. Foi dessa grande ulveira, que a pobla, a que nos vimos referindo, tomou o nome, porque era conhecida a designada – Ulvária, depois de Ulvaira e por Ulveira. A rainha D. Teresa, mãi do primeiro rei de Portugal D. Afonso Henriques aí pouco depois do ano de 1120, doou uma herdade que possuia entre Ulveira e Bovadela, à Ordem do Espital de S. João de Jerusalem. Seria grande e importante, ou pequena e pobre essa herdade ? Não se sabe, pois não temos outros esclarecimentos. Pelo nome de herdade se designava, tanto uma propriedade pequena e insignificante, como uma grande, e até um conjunto de propriedades, por vezes separadas e sitas em lugares afastados uns dos outros.Seja como fôr, essa herdade, sita a Ocidente de Ulveira, mas no seu termo, foi o embrião que, desenvolvendo-se, veio a dar umas das mais importantes comendas, que a Ordem dos hospitalarios possuiu em Portugal. Senhora desta herdade em Ulveira, a Ordem do hospital principou logo a alargar os seus dominios nesta região, por compras, doações e outras formas de aquisição de terras, casais, jurisdições etc., e isto tão rapidamente, que em breve toda a pobla de Ulveira e o território circundante era pertença dos hospitalarios, com excepção apenas dum ou doutro casal, pouquissimos que continuaram sendo realengos.

O proprio padroado eclesiastico da igreja, paroquial de Sanhoane (S. João) de Ulveira, era da Ordem, e o facto desta primitiva igreja Ter por titular S. João, patrono da Ordem de S. João de Jerusalem, ou do Hospital, faz-nos suspeitar, que seria por esse tempo que a pobla se erigiu em paroquia, sendo já a Ordem que construiu e fez benzer a respectiva igreja paroquial. O que é certo é que, daqui em diante, esta aldeia de Ulveira, para se distinguir doutras povoações de igual denominação entre as quais de contavam duas aqui bem perto – S. Miguel de Ulveira (hoje Vila Nova de Oiiveirinha) e Ulveira do Conde (agora Oliveira do Conde) principou a ser chamada Ulveira do Espital, decorando se com o nome da Ordem a que pertencia e os seus habitantes, caseiros ou foreiros dos hospitalarios, eram comumente designados pela denominação especifica de homens do Espital. Não era a paróquia constituida apenas pela aldeia de Ulveira do Espital. Mais trez aldeias, colocadas nos vertices dum triangulo, dentro do qual ficava Ulveira, formavam a paroquia com a sede nesta, que era central. Havia a sul a aldeia de Garamácios, onde em tempo de D. Afonso Henriques residiu Dom Chavão (Domnus Flavianus), rico homem das terras de Seia, isto é, o chefe, o governador civil, o representante do rei no vasto distrito de Seia, o qual vivia habitualmente na sua casa de Garamácios com grande ostentação e numerosos familiares – parentes, soldados, peões, cavaleiros, criados, servos, etc., etc. Era ele que tinha os direitos de padroado eclesiastico na vizinha paroquia de Sampaio, a qual ainda hoje conserva, de Sampaio de Garamácios ou de Gramaços. A aldeia onde morava Dom Chavão, nada tinha com a Ordem do Hospital. O rico-homem, e depois os seus descendentes e herdeiros, nenhumas contribuições pagavam, nem ao rei, nem à Ordem, mas os outros habitantes de Garamácios ou Gramaços, que não pertenciam à familia de Dom Chavão, todos pagavam ao rei as contribuições tradicionais de voz, de coima, de colheita, etc. Eram tambem elementos constitutivos da paroquia de Ulveira do Espital as duas aldeias de Gavios de Jussãa (de baixo) e Gavios de Sussãa (de cima), que ainda conservam, com pequena alteração, o nome proprio, porque já então eram conhecidas (Gavios, donde Gavinos, donde Gavinios, e por fim, Gavinhos). Gavios de Jussãa (de baixo) tambem passou em breve às mãos dos hospitalarios. Gavios de Sussãa (de cima) pertencia, em grande parte, aos decendentes do rico-homem Dom Chavão.

A Ordem do Hospital adquiriu também uma importante herdade, sita entre Gavinhos de Baixo e Bobadela, denominada a Castanheira, e ali fundou uma aldeia, conhecida por este nome, a qual fazia parte da paroquia de Ulveira, que assim ficou sendo constituida por cinco aldeias distintas e separadas, a ultima das quais, com o decorrer dos séculos, veio a desaparecer completamente. O territorio onde assentavam estas aldeias, e o que as circundava, era muito fertil e rico, e os homens do Espital ali moradores, muito agenciadores e laboriosos, não se descuidavam em o cultivar. Assim é que, ao realizarem-se nas terras de Seia, de que fazia parta este região, as Inquirições de D. Afonso III, em 1258, encontramos os homens de Ulveira do Espital a cultivarem muitas teras de pão, e principalmente muitas vinhas, não só no território da paroquia de Ulveira, mas também no da Bonadela, e até na Riba de Alvia (Ribeira de Alva) no termo de Pena- Alvia. Os homens do Hospital, moradores em Gavos de Jussãa também cultivavam terras no termo de Lagos, e os da Castanheira (que estava cercada de herdades regalengas) no termo de Travanca. Embora pertencessem ao Hospital os homens que cultivavam essas terras regalengas, eles pagavam ao rei as devidas contribuições de voz, de coima, de colheita, etc., mas pelos casais e terras que possuiam e cultivavam no termo da aldeia de Ulveira, nada pagavam aos cobradores régios, eram isentos de todas as contribuições regalengas, e apenas davam à Ordem do Hospital os foros e prestações que lhe eram devidos; os homens do hospital de Gaveos de Jussãa, porém, sendo isentos de todas as outras contribuições reais, pagavam entretanto todos os anos a contribuição chamada colheita.

Os proprietarios estranhos à Ordem que possuiam herdades suas na vila e paroquia de Ulveira do Espital, pagavam por estas ao rei as contribuições ordinarias. Em 1288, quando aqui se realizavam as Inquirições de D. Denis, ao serem as testemunhas perguntadas-sse em esta ffreguisya (Parrochia sancte crucis de Ulvaria do Sprital) há casa de canaleyro ou de dona ou doutro homem alguu que sse defenda per honrra – respondeu a testemunha Domingos Martins, sendo este depoimento confirmado por mais nove testemunhas ajuramentadas, que-há hj huna aldeia que chamam ulveyra do espital e outra que chamam Gauyos de Jusãao. E disse que som ambas herdamento do espital. E disse que sempre dos seus dias trazem por honra que non entra hj Moordomo del Rey nem peictam (pagam) ende a El Rey voz nem Cooymba. E disse que trage hj ho espital sseu Moordomo e sseu Juiz. E disse que ssenpre dos seus dias as uyo asy trazer por honrra que nunca hj uyon entrar Moordomo del Rey nem lhy peitar (pagar) ende voz nem Cooymha. E disse que ssempre dos seus dias o uyou asy trazer por honra pero disse que Gavios de Jussão dam colheyta ende. Perguntado sse estas aldeayas forom honrradas per Rey disse que non que o el ssoubesse. Perguntado de que tenpo disse que o non ssabya sse non que o uyou asy nosar do tempo que sse acordaua. E disse que acordaua bem L. (cincoenta) anos. Item disse que há hj outra aldeya que chamam Gavios de sussãao. E disse que entra hj o Moordomo de El Rey E peytam end a boz. E a cooymha pero disse que em termho de ulueyra há herdamentos del Rey honde lhe fazem fforo e non lho negam. Inquir, de D. Denis fol. 66). Note-se que a colheita era contribuição bastante pesada.

Passou por varias vicissitudes, mas nesse tempo achava-se geralmente reduzida a dinheiro, que se pagava no dia 1 de Maio de cada ano; entretanto alguns concelhos privilegiados tinham dispensa de tal prestação, devendo apenas pagá-la em generos, para sustentação do rei e da sua comitiva, algum ano em que, porventura, acertasse de passar pela terra o monarca. A titulo de exemplo, citarei os concelhos de Lourosa e de Vila-Pouca, actualmente integrados no de Oliveira do Hospital, que ambos estavam nestas condições, pagando sómente quando o rei por aqui passasse, a colheita em generos, descrita nas Inquirições de D. Afonso III e nas de D. Denis. Transcrevamos: De lourosa uj c (trezentos) paães e de njnho uj (seis) puçaaes E som pela nossa medida uj (três) puçaaes e três almudes e seys vasos E de cenada. V (cinco) moyos. E som pela nossa medida uijo (quatro) muos E hua vaca e dous porcos e V (cinco) carneyros e dous cabritos E dous leytões E XX (vinte) galinhas E dozentos ouos e duas restes dalhos E duas de cebollas E hun almude de manteiga E hun almude de mel e hun almude de vinagre E hun almude de sal E lenha que anonde E por açafram e pimenta e hun maranidil, (Inquir. De D. Afonso III. Liv. 4 fol. 27).

Note-se que as medidas de líquidos e sólidos, referidos neste apontamento – puçal, almude, vaso, moio – variam muito em capacidade de concelho para concelho, embora vizinhos. Ainda hoje, na colheita de pensões e de foros, no nosso concelho, se faz uso praticamente do alqueire de Seia, do da Bobadela, e do Casal, diferentes entre si. Já ao tempo das referidas Inquirições de D. Denis (1288) havia sido mudado, como vimos na trascrição acima feita, o titular da igreja paroquial, pois nelas aparece a nossa freguesia denominada Parrochia sancte crucis de Ulvaria do Sprital. Como explicar a substituição do Patrono geral da Ordem de S. João de Jerusalem, pelo titulo especial da Santa Cruz? Temos de reconhecer o facto, que é incontestável, embora não saibamos explicá-lo. A festa da Exaltação da Santa Cruz celebrava-se em Jerusalem com grande pompa, comemorando a retituição feita pelos Persas da Cruz do Redentor, e a entrada triunfal e solenissima que no século VII fez com ela o próprio imperador do Oriente Herachio em Jerusalem, colocando-a no templo do monte Calvário. As autoridades da Ordem do Hospital assinaram título, talvez na ocasião de a reconstruirem, pois a primitiva devia ser muito pequena, de dimensões talvez duma insignificante capela.

Ainda hoje a igreja paroquial de Oliveira conserva o mesmo título da Exaltação da Santa Cruz. No decorrer dos tempos, Ulveira foi-se desenvolvendo, foi ganhando importancia à sombra da grande, poderosa e gloriosissima Ordem de S. João de Jerusalem, a mais importante e estimada das três Ordens militares que em Jerusalem se fundaram após a tomada e restauração da cidade santa pelos Cruzados, a 15 de Julho de 1099 – a do Hospital, a do templo, e a do Santo Sepulcro. A Ordem do Hospital de S. João de Jerusalem, simplesmente Ordem do Hospital, depois da conquista da cidade santa pelos árabes, passou a ser também conhecida e designada pelos nomes dos locais em que sucessivamente se foi fixando a sua Casa-mãi ou convento principal, cabeça da mesma milicia. Assim é que primeiro se chamou de Acre até 1310; depois, até 1522 os seus cavaleiros denominavam-se de Rodes; por fim, desde 1530, ficou sendo conhecida pela designação de Ordem de Malta até à actualidade, apesar de já não terem a sua séde nesta ilha desde 1793. Quando a Casa-mãi da Ordem estava na ilha de Rodes, foi seu alto dignitário um cavaleiro muito distinto o notável, oriundo de Ulveira do Espital, que chegou a acumular grandes cargos e dignidades em Portugal, e na Ordem dos hospitalarios.

Era Fr. André do Amaral, 7º neto do nosso já conhecido Dom Chavão, rico homem das terras de Seia que tivera a sua casa em Gramaços, e 5º neto do cavaleiro Domingos Joanes, cuja capela tumular ainda existe contigua a igreja paroquial. Nesta se veem as figuras de Domingos Joanes e de sua mulher Domingas Sabachais, nas magnificas estátuas dos respectivos túmulos, e repetidas no retábulo do altar.Também ali existe, colocada numa insula ao fundo da capela, uma pequena estátua equestre extremamente interessante, representando o mesmo cavaleiro com o seu escudo blasenado no braço esquerdo, completamente armado e equipado para entrar em combate. São esculturas de alto valor, que merecem todo o cuidado de guarda e conservação, e que devem ser vistas e admiradas por todas as pessoas cultas e entendidas, que passem pela nossa terra. Na época em que Fr. André do Amaral estava no apogeu do seu prestígio, a vila de Ulveira do Espital, foi por el-rei D. Manuel I honrada com um foral, em data de 27 de Fevereiro de 1514, e um ano depois, a pedido de Fr. André, mandou o monarca venturoso ao seu primeiro rei de armas, que fosse à igreja de Santa Cruz da dita vila, visitar a capela tumular de Domingos Joanes; e ver e tomar nota das armas deste cavaleiro, ali esculpidas. Realizada esta visita e inspecção, e dado testemunho pelo rei de armas, foi então passada a notável carta de brasão de armas em data de 23 de Abril de 1515, autorizando Fr. André a usar o dito escudo, assim descrito: Em campo azul uma aspa de prata, enire quatro flores de lis de ouro.

Pouco depois desta época é que, por uma falsa aproximação, se transformou a antiga denominação de Ulveira na de Oliveira. A importancia da vila de Oliveira do Hospital vinha-lhe do facto de ser séde duma comenda muito valiosa e opulenta, do génio activo e agenciador dos seus habitantes, e da abundancia e fertilidade do seu terreno cuidadosamente agricultado e explorado. Enxuta agora a grande ulveira, que dera o nome à povoação e transformada em fertílissimas propriedades aumentara muito a produção de hervas para o gado, de cereais, hortaliça e frutas, para alimentação dos habitantes. Era a vila de Oliveira séde dum minusculo concelho e julgado, pois o Municipio não se estendia além do termo da paroquia, senão para Este, compreendendo a vizinha freguesia de S. Paio de Gramaços.

Achava-se, por assim dizer, comprimido num apertado circulo de pequenos Municipios, que formavam corôa ao de Oliveira. Estes concelhos foram extintos na complexa e hesitante reorganização administrativa do país, sucessivamente operada pelo decreto nº 23 de 16 de Maio de 1832, lei de 25 de Abril de 1835, decretos de 6 de Novembro e 31 de Dezembro de 1836, lei de 29 de Outubro de 1840 decreto de 18 de Março de 1842 e lei de 29 de Maio de 1843. Ultimada esta reorganização, ficou o concelho de Oliveira do Hospital constituido por nove freguesias, incluindo a da séde. Ei-las dispostas pela ordem alfabetica: Bobadela, Lagares, Lagiosa, Lagos, Menuge, Nogueira, Oliveira, S. Paio e Travanca. Assim se encontrava constituido o Municipio no meado do século XIX; em modificações posteriores foi acrescentado com onze freguesias mais:- Aldeia das Dez, Alvôco de Varzeas, Avô, Ervedal, Lourosa, Penalva, Santa Ovaia, S. Gião, S. Sebatião da Feira, Seixa, e Vila Pouca, Ficou, pois definitivamente até à actualidade, abrangendo vinte freguesias. Por decreto de 23 de Dezembro de 1875 foi a vila de Oliveira do Hospital erigida em cabeça de comarca.”

Texto publicado em 1934 na publicação “Voz de Oliveira”, semanário regionalista de Oliveira do Hospital / Dir.: Albino Alves de Matos, José Lencastre; Edi. e Prop.: Eugénio de Almeida Ruas.

 

“O escudo original”

“Em 1931 o presidente da Câmara de Oliveira do Hospital, Dr António Correia da Fonseca, após o regresso da sede do município, da localidade de Avô, para Oliveira do Hospital, pediu um parecer sobre este assunto ao Doutor António Ribeiro Garcia de Vasconcelos, pois se não houvesse brasão próprio teria de se pedir um ao Governo.

Segundo investigação do Doutor Vasconcelos (homem de letras e que foi lente da Universidade de Coimbra) existia um escudo de armas na frontaria do paço municipal e terá sido destruído, bem como os arquivos municipais, o cunho e o selo. E o mesmo escudo existiu também na igreja paroquial” que remonta, pelo menos ao séc. XVII e “nela se via o escudo da villa esculpido na verga da porta travessa e, também pintado com as respectivas cores…sobre o retábulo do altar”.

Tratava-se de um escudo que tinha por base as armas da Ordem de Malta , “dominus loci” ou seja o donatário, e, como peças heráldicas diferenciadoras uma estrela de seis pontas e uma Flor de Lis, como a seguir se pode comprovar em desenho do mestre de Coimbra, Eduardo Belo Ferraz, mandado fazer pelo visconde Sanches de Baena, especialista em heráldica, em conformidade com a indicação e esboço fornecidos pelo Dr. Francisco Borges Mendes Cruz, reportando-se ao que vira no antigo paço do concelho.

A estrela representaria provavelmente a situação geográfica e relação do município com a Serra da Estrela e a Flor de Lis era o símbolo do brasão de Domingos Joanes, célebre cavaleiro de Oliveira e descendente dum “rico homem de Gramácius (Gramaços) Flaviano ou Chaves”. Ainda existe hoje um local junto a Oliveira, nas costas do complexo escolar designado como vale do ricome (rico homem).

Tudo foi destruído com o fim da monarquia e, citando o Doutor Vasconcelos “O desenho tive eu a feliz ideia de o guardar…a escultura da fachada do paço da Câmara foi mutilada em 1910 …pela imbecilidade estúpida e selvagem de quem uma noite, trepando por uma escada de mão, a partiu…o estandarte desapareceu e as gravuras também se sumiram”.

Como conclusão, o doutor Vasconcelos, em carta dirigida ao presidente do Município termina deste modo: “Salvo melhor e mais autorizado parecer, a Câmara de Oliveira do Hospital não deve hesitar em continuar a usar o antigo escudo heráldico da vila, séde dêste Concelho. Eis a sua descrição: Em campo de púrpura, cruz de Malta de prata; e de ouro, acantonadas em chefe, à dextra uma estrela de seis pontas, à esquerda uma flor de lis. Quanto à corôa, é meu parecer, embora inteiramente destituído de autoridade que é preferível deixar o escudo, simples sem cobertura. A única que, razoàvelmente podia pôr-se-lhe, era a coroa da soberania usada nos escudos heráldicos da Ordem de Malta; mas é fácil de prever que isso causaria reparos a certa gente exaltada; suporiam ver nela a coroa dos depostos reis de Portugal e, toma-la-hiam à conta de manifestação política subversiva… eu preferiria um escudo descoberto, encarregando um artista de dar a êste uma forma adequada, de forma que a estética não fosse prejudicada…

Esta a minha opinião sincera, exposta despretenciosa e chãmente, com o afecto e amor que me merece tudo quanto se refere à minha terra querida e à sua história”.”

Texto publicado por Carlos Martins em 2009, apoiado na  Bibliografia: Oliveira do Hospital e o seu escudo de armas; Dr. António de Vasconcelos; Coimbra Editora, M.DCCCC.XXXI