A Arte Secular do Cobre e Latão

O Cobre

O cobre é um material puro e natural, é um elemento químico cujo símbolo é Cu e, consta-se que, terá sido o primeiro metal utilizado pelo homem. À temperatura ambiente o cobre acha-se no estado sólido e é um dos metais menos abundantes da crosta terrestre.
Com o evoluir dos tempos, o cobre veio substituir a pedra como ferramenta de trabalho e a sua presença é constante ao longo da evolução tecnológica do Homem.
Este metal apresenta um alto grau de dureza, tem grande resistência à corrosão devido às suas propriedades químicas o que lhe confere uma enorme utilidade, durabilidade e funcionalidade. O cobre apresenta também características significantes no que diz respeito à reciclagem visto que, ao submeter-se a este processo, não perde as suas propriedades físicas, mecânicas e químicas, ou seja, é 100% reciclável. Com a sua evolução é utilizado para objectos de decoração, utensílios domésticos e de trabalho, materiais condutores (fios e cabos), motores eléctricos, entre outros. Este material tem tido uma enorme importância ao longo dos tempos, quer para o uso doméstico quer para o uso industrial ou até mesmo para a “construção de coberturas e revestimentos de edifícios institucionais” (Simões, 1998, pág. 5) no âmbito da tecnologia da Arquitetura.
É um metal com uma cor atrativa e é bastante maleável sendo que, o artesão que trabalha o cobre parte de folhas de metal, a partir das quais confeciona peças decorativas, utensílios, entre outros.

O Cobre na Catraia de São Paio

É na localidade de Catraia de São Paio, pertencente à União das Freguesias de Oliveira do Hospital e São Paio de Gramaços, que podemos encontrar três estabelecimentos que se dedicam à venda de peças e utensílios feitos em cobre. Para além da venda ao público, duas destas casas, possuem também fabrico próprio, o que confere uma exclusividade e enorme valor ao produto final. Também a menos de 2 km deste local, no Senhor das Almas, existe uma outra casa de cobres, a qual tem igualmente venda ao público e fabrico próprio.

Sendo a arte de trabalhar o cobre escassa no nosso país e o facto de num tão curto espaço existirem duas casas que o façam é, em minha opinião, uma mais valia não só para esta freguesia como também para todo o concelho de Oliveira do Hospital.

Cada loja possui peças únicas, as quais são feitas com muito empenho, trabalho e dedicação por parte dos artesãos. Estas lojas, para além das peças que têm em exposição e que podem ser adquiridas pelos clientes, disponibilizam-se também a fazer peças ou utensílios através de encomendas.

A “Casa Luzarte – Carlos Faria da Cunha & Filhos Lda.” é, provavelmente, a mais antiga na arte de trabalhar o cobre. Esta empresa foi fundada em 1930 por um homem cujo nome deu denominação à própria empresa. Este era um jovem e habilidoso artesão que aprendera esta arte com o seu pai. Ao logo dos tempos, Carlos Faria da Cunha foi aperfeiçoando a sua técnica e transmitindo-a, sendo que nos é hoje possível afirmar que este “criou uma escola de onde saíram habilidosos artesãos que transformam esta arte numa atividade que caracteriza e prestigia a região de Oliveira do Hospital.”

A empresa foi alargada, não só a nível físico como também em relação ao mercado (nacional e internacional), sendo que a produtividade é considerada bastante satisfatória. São os descendentes do fundador que hoje mantêm a empresa bem como o seu número considerável de funcionários, tratando-se assim de uma empresa de média dimensão. Para além da exposição das peças na loja e da oficina onde trabalham os artesãos, a “Casa Luzarte” possuí também uma espécie de mini-museu, onde se encontram várias e diferentes peças de autoria de Carlos Faria da Cunha, bem como as ferramentas que este utilizava para a realização das mesmas.

É, de certa maneira, uma homenagem dos seus descendentes em honra de um artesão notável, que produziu peças únicas e com valor incalculáveis, sendo que não estão à venda por esses mesmos motivos. De salientar, que são várias as vezes e ocasiões em que são pedidas aos representantes da empresa algumas dessas peças, seja para exposição ou para decoração, como já aconteceu, por exemplo, no âmbito da “Festa do Queijo Serra da Estrela de Oliveira do Hospital”, o que apenas vem comprovar toda a excelência dessas mesmas peças. Contudo, apesar de toda a riqueza das peças que aqui são produzidas a verdade é que cerca de 95% da produção desta casa é para exportar para França, como principal destino a decoração e equipamentos para hotéis.

A poucos metros e do lado oposto desta casa, encontra-se a “Metalúrgica da Catraia” a qual, para além do fabrico próprio de peças tradicionais em cobre e da sua venda, se dedica também a objectos feitos em inox e latão e ao mercado da iluminação. Esta casa, construída em 1968, teve de se adaptar aos novos tempos e apostar em novos produtos pois, como o senhor José Manuel diz: “Se só vendêssemos peças em cobre já tínhamos fechado a porta”. Este proprietário de uma das casas de cobres e iluminação na Catraia de São Paio afirma que, em termos de peças feitas cobre, a maioria é para exportar para a Alemanha e Bélgica, sendo que o mercado espanhol que outrora era bastante significativo na compra destas peças, decaiu de forma brusca. Em 2004 esta casa possuía cerca de 30 trabalhadores, fazendo horas e dias de trabalho porque a procura era muita, no presente a casa apenas tem trabalhadores quando estes são necessários, por outras palavras, quando há trabalho para fazer.

Apesar da crise, do país e a nível mundial, o certo é que este mercado não é suficientemente conhecido nem dinamizado, sobretudo na região. É necessário impulsionar esta atividade e dar-lhe o devido valor, valor este que já lhe é conferido mas internacionalmente. Esta é uma arte que dá prestígio a todo o concelho de Oliveira do Hospital, pelo que é de interesse de toda a população que seja dada a conhecer, quer aos visitantes e possíveis turistas quer aos próprios habitantes locais, para perceberem todos os saberes que envolvem esta arte, toda a tradição e poderem também adquirir algumas peças únicas e incomparáveis.

O Artesão

Antes de falarmos no artesão enquanto pessoa devemos fazer primeiramente uma breve abordagem do que é afinal a atividade artesanal. Assim, entende-se por atividade artesanal uma atividade económica, a qual assenta na produção, reparação ou restauro de bens de valor artístico ou utilitário, seja de raiz tradicional ou até contemporânea. É uma atividade que possuí um enorme valor cultural e social e que pode consistir também na produção ou preparação de bens alimentares, desde que respeite a fidelidade ao processo tradicional bem como a abertura à inovação.

No concelho de Oliveira do Hospital o artesanato assume a sua maior expressão no fabrico de artigos em cobre sendo que, tal profissão se destaca em relação a todas as outras pela sua escassez no resto do país. A arte de trabalhar o cobre é uma atividade que consiste na manufatura e reparação de peças utilitárias ou decorativas em cobre, tais como alambiques, tachos, braseiras, cataplanas, floreiras, pratos decorativos, candeeiros, entre outros.

Esta é uma arte que não se aprende nas escolas, que não vem escrita nos livros nem que poderá ser entendida num ecrã de computador, não existindo escolas específicas de formação para esta atividade. O artesão que trabalha o cobre aprendeu este ofício com, provavelmente, alguém da sua família ou com algum mestre da sua terra, sendo que se trata de uma aprendizagem demorada e que exige um trabalho contínuo para aperfeiçoar a técnica. Normalmente os artesãos desta atividade iniciam-se na arte desde bem jovens pois os conhecimentos e aperfeiçoamento desta execução, essencialmente artesanal, obtêm-se com o decorrer dos anos de prática. Esta arte é uma herança que nos foi deixada pelos nossos antepassados, os quais transmitiram os seus conhecimentos e o saber das suas próprias mãos para alguns jovens, na sua maioria aos filhos para que estes continuassem com a Obra e o negócio de família.

O artesão que trabalha o cobre deve então dominar tanto os saberes como as técnicas que estão inerentes à atividade que exerce, é um trabalhador que deve ter um apurado sentido estético e bastante perícia manual, deve ser cuidadoso e, para que lhe seja reconhecido o estatuto de artesão, deverá possuir a “Carta de Artesão”, sendo que para isso este deverá dedicar-se a esta atividade profissionalmente e não como atividade complementar, deverá também exercer essa atividade em unidade produtiva artesanal reconhecida e a atividade que exerce tem de constar no “Reportório de Actividades Artesanais”. O reconhecimento do estatuto de artesão é assim bastante importante na medida em que dá acesso a associações do sector que o artesão defende, dá visibilidade e valorização quer da atividade exercida quer de quem a exerce e possibilita ainda usufruir de apoios do Estado, quando estes existem, para o sector de Artes e Ofícios.

Contudo, esta é uma arte que cada vez mais tem tendência a desaparecer devido ao desinteresse de aprendizagem por parte dos jovens e o envelhecimento e desmotivação por parte dos artesãos mais idosos, ou seja, é uma tradição em vias de extinção pelo simples facto de serem poucos os que a querem aprender e ainda mais raros os que ainda vivem para a ensinar.

O artesão usa essencialmente ferramentas manuais, embora com o auxílio de máquinas-ferramentas, designadamente para o corte e quinagem da chapa. Esta profissão é exercida maioritariamente pelo sexo masculino e exige não só muitas horas de trabalho como também empenho e dedicação embora, no final, o esforço valha a pena pois são criadas autênticas obras de arte e peças únicas com um valor incalculável.

Peças e utensílios fabricados

São vários os objetos que são produzidos a partir do cobre, tais como bengaleiros, tachos, canecas, candeeiros, jarros, bandejas, cataplanas, alambiques, entre muitas outras peças decorativas ou utilitárias.

Nos dias de hoje encontramos diversas peças características de várias regiões do país no entanto, é também possível depararmo-nos com peças inovadoras e com designs actuais. O cobre é assim um material do Passado, que acompanha o Presente e que se irá também manter no Futuro não só devido às suas propriedades, que já referi anteriormente, como também devido ao atractivo valor das suas inimitáveis características estéticas e à sua cor, que pode variar entre o dourado ao castanho chocolate e ao verde-claro.

No que diz respeito a utensílios tradicionais feitos em cobre destaca-se, na região Centro/Norte de Portugal onde se situa Oliveira do Hospital, os alambiques.

Os alambiques feitos em cobre são típicos dos meios rurais e, o concelho de Oliveira do Hospital, não é exceção. São ainda muitos, nesta região, os que se dedicam a produzir a aguardente que é tão apreciada, quer pela população local quer pelos próprios turistas. Em termos de produção destaca-se a freguesia de Aldeia das Dez com a conhecida “aguardente de medronho”, contudo, todo o resto do concelho tem também excelente produção. Os alambiques são assim um precioso utensílio para produzir esta bebida espirituosa, pois é através destes que se efectua o processo de destilação.

Já no que toca a peças modernas feitas com este material é de salientar que são, normalmente, peças exclusivas, as quais na sua maioria se destinam para mercados internacionais, como França, Espanha e América do Norte. De referir também que, estas peças, têm como fim principal o decorativo e não utilitário.

O Cobre na gastronomia

O cobre assume um papel significante na gastronomia principalmente devido ao uso de cataplanas para confeccionar alguns pratos, embora também existam tachos e outros utensílios de cozinha feitos com este material. Podemos encontrar cataplanas de várias dimensões, feitas de alumínio ou latão, embora as originais sejam feitas em cobre. As cataplanas que não são feitas deste material acabam sempre por levar um banho de cobre para assim terem um aspeto mais característico. Estas possuem um aspecto peculiar: “duas meias panelas, côncavas, unidas por uma dobradiça e com dois fechos” (Lima, 2007,in Diário Região Sul) que possibilita uma cozedura hermética das iguarias. A cataplana é utilizada na região de Oliveira do Hospital não só em restaurantes como também nas cozinhas da própria população.

A cataplana é uma espécie de recipiente onde se podem cozinhar vários alimentos, embora os mais comuns sejam produtos típicos do Algarve, como o marisco, amêijoas, entre outros. No entanto, no concelho de Oliveira do Hospital as cataplanas servem, essencialmente, para cozinhar alguns pratos com carne de porco. Assim, as peças ligadas à culinária feitas em cobre são importantes não só pelo uso deste material, mas também devido à enorme importância que a gastronomia tem nesta região. Na verdade, com base no Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT), a gastronomia é um dos principais recursos da Região Centro e esta é também uma das regiões prioritárias para o investimento no produto “Gastronomia e Vinhos”, sendo este um dos dez produtos estratégicos do PENT.

Rota do Cobre

Esta é uma rota que apenas faz referência a locais onde seja possível apreciar peças ou utensílios feitos em cobre ou onde o visitante possa ter acesso ao seu fabrico e até mesmo à sua aquisição, tudo isto dentro do concelho de Oliveira do Hospital.

Pode começar a sua rota pela Bobadela, designada de “Civitas Splendidissima”, na qual é possível notar o seu povoamento durante o domínio Romano através do Fórum (que possui um Arco Romano ainda bem conservado) e do Anfiteatro. Mesmo ao lado destes monumentos encontra-se o “Museu Municipal Dr. António Simões Saraiva”, antiga Casa dos Godinhos.

Este museu, para além de obras de pintura e escultura, de gravuras e outras peças de grande interesse, possui também vários objectos feitos artesanalmente em cobre, como alambiques, pratos decorativos, bacias, chocolateiras, entre outras.

Após contemplar todas as obras das várias salas deste Museu siga até ao centro da cidade de Oliveira do Hospital onde poderá almoçar no restaurante “O Túnel”. Aqui irá poder experimentar alguns pratos típicos da região bem como os seus excelentes vinhos, saboreie as fatias de queijo, a chanfana, costeleta de vaca na telha e delicie-se com o Arroz Doce ou com a Tigelada para sobremesa. Ao mesmo tempo admire as diferentes peças decorativas feitas em cobre espalhadas por todo o restaurante, desde cataplanas, canecas, pratos, candeeiros, a própria coifa e chaminé da lareira, entre muitos outros.

Após o almoço, nada melhor do que dar um passeio pela cidade, sem nunca esquecer o cobre como destino principal. Aproveite a proximidade para conhecer o edifício “Paços do Município”, cuja construção é do século XIX, onde são as instalações da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital. No seu interior poderá apreciar uma obra de arte feita com matéria-prima regional, como o xisto, a madeira e, claro, o cobre.

Depois desta visita, dirija-se para a localidade de Catraia de São Paio onde poderá visitar três lojas dedicadas ao fabrico e/ou venda de peças e utensílios feitos em cobre. Aproveite para ver como os artesãos elaboram essas peças, escute o martelar dos martelos nas folhas de metal, aprecie cada gesto, todo o empenho e dedicação com que estes homens exercem a sua profissão. Poderá adquirir também qualquer peça das que se encontram em exposição nestas lojas ou, se preferir, encomendar uma a seu gosto. A menos de 2 km dali, no Senhor das Almas, encontrará uma quarta loja também esta com fabrico próprio e venda ao publico.

No final do dia, dirija-se novamente ao centro de Oliveira do Hospital e conheça o Hotel São Paulo, onde poderá escolher uma refeição com produtos regionais. Na sala de jantar, ao mesmo tempo que aprecia os sabores gastronómicos, veja também peças em cobre, com principal destaque para um alambique. Também no bar do hotel é possível verificar alguns objetos feitos deste metal, assim como no hall de entrada e se, se tiver esquecido de comprar uma ou outra lembrança porque não faze-lo na receção onde, entre outros objectos e peças, poderá adquirir algumas miniaturas feitas em cobre.

Também o queijo da serra, o queijo fresco e o requeijão adquiridos na nossa freguesia o direito de serem considerados produtos de excelente qualidade, tendo sido já distinguidos com a atribuição de medalhas de 1.º lugar em concursos internacionais.

Onde adquirir

Casa Luzarte – Carlos Faria da Cunha & Filhos, Lda.

Fabrica e Comercializa: Peças em cobre e latão
Estrada Nacional 17 – Catraia de São Paio – 3400-002 Oliveira do Hospital
Tel.: 238 604 476

 

Casa de Metais – A. Fernandes & Filhos, Lda.

Comercializa: Peças em cobre e latão
Estrada Nacional 17, 25 – Catraia de São Paio – 3400-002 Oliveira do Hospital
Tel.: 238 603 433

 

Metalúrgica da Catraia – José Fernandes, Lda.

Fabrica e Comercializa: Peças em cobre e latão
Estrada Nacional 17, 21-23 – Catraia de São Paio – 3400-002 Oliveira do Hospital
Tel.: 238 604 136